sábado, 16 de agosto de 2014

Quando elas foram para longe





"...Onde eslas foram?" Pergunta Lyam para os outros ao redor do caldeirão.

Ângelo estava pálido, tendo perdido contato com elas. Os olhos de Ryan cerrados e Brunya rola os dela

"Aquelas imbecis esqueceram de nos incluir no feitiço. Elas devem estar em algum lugar do submundo próximo de Damian.

"O QUÊ?" Rosna o meio-anjo para ela, se virando para Ângelo em um impulso "Vá atrás delas!"

"Não posso" Responde tremendo levemente. Não pela raiva que transbordava claramente do outro, mas por não poder fazer nada "Não tenho como. Estou sem contato"

"Chamas brancas não tem domínio do submundo. É por isso que nós estávamos com o feitiço para inicio de conversa" Comenta Brunya como se fosse a coisa mais obvia

"ENTÃO FAÇAM ALGO! Não dá para usar o feitiço novamente?" Uma mão segura o ombro de Lyam, Ângelo tentando acalma-lo. Quem responde porém é Ryan.

"Se acalme homem. O feitiço é para apenas alguém de dentro do círculo chamar outro integrante. Qualquer feitiço alternativo iria requerer poder de uma trindade de bruxos completa ou mais..."

"...Deve haver algum jeito..." sussurra Ângelo de olhos fechados tentando encontrar nem que seja uma faísca de presença das bruxas. Ele sente uma fagulha de Priya, e sabia que ela estava em perigo, apesar de não saber onde.

"Nós temos uma trindade de bruxos aqui. Eu, você e ela" Rebate Lyam para o outro ao lado de Brunya. A moça olha para Ryan, que permanece calado, fazendo ela se virar para o meio-anjo. "Você é estúpido? Se Ryan fosse um bruxo já teríamos encontrado Damien a tempos!"

Isso faz os dois com sangue de chama branca olharem Ryan com surpresa, este só abaixando a cabeça. Todos sabiam o que Brunya dissera implicitava. Houvera então um longe momento de silêncio. Ninguém sabendo o que dizer.

"...Existe um jeito..." Ryan comenta baixo, seus olhos fixados em Ângelo, e este demora um segundo até entender, balançando a cabeça negativamente

"É contra as regras. AMBAS as regras das duas magias"

"O que?" Perguntam Brunya e Lyam ao mesmo tempo

"...Sincronizar os poderes... Eu daria parte dos meus á ele, e ele me daria parte dos dele. Desse jeito ele teria domínio no submundo, e poderia sentir a presença dos seus protegidos até lá embaixo." Explica Ryan para os dois novatos no mundo da magia. Ângelo então completa. "Isso é praticamente impossível. Além dos diversos fatores de que poderia falhar, nenhum demônio e chama branca agiriam juntos."

"Eu faria... Por Damian." Mais uma vez, todos se calam com o tom de voz do demônio. Ângelo hesita um instante, e Lyam sente um frio percorrer sua espinha, algo no canto de sua mente dizendo que Alyssa corria grave risco.

"Alyssa está em perigo. Muito perigo, Ângelo. Elas precisam de ajuda AGORA."

Com um olhar determinado, o anjo então acena para Ryan.

"Vamos fazer isso"

sexta-feira, 2 de maio de 2014

"A dor é passageira. Desistir dura pra sempre."

Mais uma noite que não consigo dormir tranquilamente, acordo assustada, respiração afegante, aos poucos volto ao normal e percebo que não passou de um pesadelo.  E nele o Lyam desaparecia da minha vida para sempre. Tento não pensar muito, mas isso vem me aterrorizando por esses dias...

É difícil admitir que sinto a falta dele mas, sinto muito mais do que poderia imaginar. Estava me acostumando com sua presença constante aqui em casa. Até porque ele foi o único homem que eu deixei entrar no meu apartamento. Eu nunca me entreguei tanto a uma relação ou me expus desse jeito, contei coisas sobre mim que poucas sabem. Falei sobre minha família, trabalho e até meus projetos futuros... Talvez tenha adquirido mais confiança depois que ele contou um pouco sobre sua vida também.

Esse mês que passamos juntos, foi o mais próximo de um relacionamento de verdade que eu tive... Ele me levou para jantar algumas vezes, outras saímos apenas comer hambúrguer ou cachorro quente. Ele até me levou até para tomar sorvete, nenhum cara nunca fez isso. Fomos ao cinema também, mas a maioria das vezes ficamos no meu apartamento, ambos saiamos exaustos do trabalho, ele bem mais que eu. Gostava de recebê-lo para jantar, sempre preparava algo especial. Descobria seus gostos durante nossas longas conversas assistindo filme e comento pipoca ou qualquer outro petisco.

Não lembrava de rir tanto assim, rir de ficar com as bochechas doendo, acho que só quando criança. Ele me fazia feliz da forma mais simples e sem cobranças, e estávamos nos tornando grandes amigos acima de tudo.  Além da Priya ele era o único com quem estava começando a dividir minhas preocupações, e eu me interessava pelo que o afligia. O Lyam é um cara muito especial, por isso dói tanto ficar afastada dele. Quando conversávamos era como se eu tirasse um peso das costas, como se tudo fosse ficar bem.

Durante suas visitas dificilmente ele voltava para casa, dormia tantas vezes aqui que, achou melhor deixar algumas coisas de uso pessoal, como algumas peças de roupa, que eu adoro usar. Dormir e acordar juntos, foi estranho no começo, mas estou sentindo falta agora. Falta de poder acordar e abraça-lo, sentir seu cheiro, mesmo o travesseiro estando impregnado com o cheiro dele, não é a mesma coisa, isso só me faz sentir mais. Acordar disposta e preparar um bom café da manhã, ou ser surpreendida com um café na cama. Ser presenteada com flores, mas não aqueles ramalhetes exagerados, algo muito mais intimo e simbólico... Por causa dele aprendi a amar chavos, principalmente os vermelhos.

O Lyam pode ser um cabeça dura, mas eu sou muito mais teimosa, não vou desistir. Darei a ele o tempo que pediu, e depois disso ele terá que me ouvir. Não é possível que algo tão ruim tenha acontecido no passado, algo que possa alterar tanto nossa relação ou torná-la impossível. Vou insistir, lutar, no fim eu saberei que tentei e não poderei me arrepender disso.



sábado, 26 de abril de 2014

Saudações ao Amor (Salaam-e-ishq)




Há algumas músicas, daquelas que falam por nós, que nos definem, nos entendem e também surpreende. Há também poesias, das que tocam a alma, que nos leem, nos fortalecem e nos indicam o caminho. Há conselhos, abraços amigos, olhares sorridentes e silêncios que falam. 
Tudo isso eu encontrei em apenas uma pessoa, naquela que reside no lótus do meu coração.



Quando estávamos naquele bosque, eu me senti tão dele, tão minha... Eu pude ouvir sua alma enquanto a melodia de sua voz me contava histórias, explicava ritos, perguntava ou apenas sorria. Um momento nosso, puramente nosso, onde só nós dois coexistíamos em meio à perfeita natureza. Ângelo me explicava com ações que ser meu guardião era o último de seus encargos: também fora meu amigo, meu ouvinte, meu conselheiro e professor. Bem mais que um namorado, muito mais do que posso explicar.

Eu falaria o quanto me sentia feliz estando com ele, quando o ouvi cantar para mim e como é belo vê-lo dedilhando o violão, quando eu ouvi sua história, suas verdades... Eu passaria quatro vidas sorrindo, explicando em palavras ofegantes a emoção que tinha a cada beijo, a cada abraço. Eu também demonstraria as flores que ganhei e depositei no mais belo vaso, em meu quarto... Mas, são minhas memórias, memórias de quando estou com ele e isso ninguém mais poderia entender, por mais que explique, por mais que tente fazê-los sentir.

Eu me lembro das vezes que ficava dançando sozinha, ouvindo a mesma música marcada pela percussão do tabla, refazendo os passos errados, de novo e outra vez... Algum dia eu dançaria tão bem que arrancaria aplausos da família do meu marido, minha futura família. Hoje eu dancei pra ele, só pra ele, e me senti como se estivesse dividindo naquele momento, meus segredos. Ele me entendeu, ele olhou pra mim. Não havia palavras, apenas a melodia dele e o meu balançar...

São situações assim que me fazem perceber que temos sintonia, é mágico! Eu sempre desejei poder ser uma boa esposa, ser companheira e amiga de meu marido e não decepcionar a minha família, com Ângelo eu desejo somente ser feliz.
É estranho... eu tenho amarras em meus pés, minhas tornozeleiras nunca pesaram tanto. A mim foi dada a missão de seguir o destino de uma boa moça, eu aceitei. Disseram que teria de me casar para orgulhar minha família, sabia disso. Eu me curvo diante de meus pais, me curvo perante meu irmão, me curvo perante o Sagrado, pois sempre fui submissa a eles. Família é tudo! Se não está com eles, estará contra e não quero fazer isso. Há leis que preciso seguir, sempre houve normas as quais respeitei, mas não vejo onde está escrito sobre como agir caso encontre o amor.

Não estava em meus planos conhecer Angelo, nem mesmo me ver tão cativa de seu encanto. O destino nos prega peças, pois eu deveria seguir a tradição e presentear minha família com um “bom casamento”. Sempre soube que seria assim, me preparei para este dia desde quando me entendo por gente, o que me aconteceu, porém, me leva a questionar antigos conceitos e minhas obsoletas concepções: Como me casar se meu coração já tem um dono? Se meus sentimentos foram reservados a um único ser? Eu não conseguiria... No palanquim da noiva estaria um cadáver, solitário e choroso.

Essa atípica situação me doeu por dentro, porque me força a escolher entre um amor e a minha família, duas peças tão preciosas para mim. Bem sei que dizer aos meus pais que me vestir de noiva será o mesmo que me mandar para as profundezas do Ganges, irá decepcioná-los. Ao mesmo tempo, entendo que dizer ao Angelo que não posso mais retribuir este sentimento seria apunhalar mil vezes o meu coração.
Não é justo! Não quero deixa-lo! Não posso!

Até que chegue este dia, segurarei nas mãos de meu amado anjo e permanecerei assim, se ele também o quiser. O amor puro de Krishna e Radha zela por nós e eu peço com humildade sabedoria para tomar esta decisão.




E não há pétalas de jasmim que sejam tão perfumadas quando o seu corpo, ou tesouros que valham mais que seus sorrisos, seus abraços. Me sinto prisioneira de seus encantos, cativa, feliz e amada. Que eu possa retribuir o muito que faz por mim, que eu te guarde, te regue e te proteja em meu coração. 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Crônicas de um Chama Branca


Ser um guardião não é fácil...

Não se enganem. Eu não trocaria essa vida por nada... Quase nada. Mas isso não faz dela mais fácil.

Quando os anciões primeiro me fizeram um chama branca, nada me fizera mais feliz do que passar o resto da eternidade ajudando os outros a achar o bom caminho. Não existe nada mais gratificante que ver tudo indo bem à vida de seu protegido. É realmente ótimo, e junto com as experiências de suas vidas passadas, ajuda-los em seus problemas não é difícil... Exceto quando eles começam a resistir.

Normalmente os Chamas Brancas atuam indiretamente, guiando por sinais e ajudando no fundo de tela, como um contrarregras. Mas de tempos em tempos aparecem aqueles casos mais difíceis, como bruxas recém-descobertas. Elas parecem um chamariz para encrencas, fazendo algo que poderia ser facilmente resolvido em um turbilhão de problemas. Na maioria das vezes a culpa não é delas, seus novos poderes atraem demônios como luz para moscas. Eles as veem como o alvo fácil que são, e partem para cima antes que elas se apeguem à magia. É ai que eu entro em cena.

Priya, Alyssa e Damyen não foram meus primeiros casos, apesar de serem os mais difíceis. Minha primeira protegida bruxa foi uma garota gótica da Escócia, de pais desatentos que se via dando vida para os bichos de pelúcia que tinha. Poder de animação. Não é o melhor para uma viajante de primeira viagem, mas ela fez bem. Entrei em sua vida como um dos alunos que ela tutelava na escola e dali em diante eu pude mexer uns pauzinhos para ela entender e aceitar melhor essa parte de si. Sally nunca descobriu de mim como seu Chama Branca, e hoje luta com demônios com facilidade, seu movimento preferido sendo uma armadilha para o cemitério, onde ela podia animar um exercito de esqueletos a seu favor.

Foram uns dois anos até os anciões me darem outro protegido bruxo. Desta vez seu poder era mais desafortunado: Hipersensor. É terrível para o bruxo quando seu primeiro poder é passivo, porque a luta não é aprender a usa-lo, é aprender a desativa-lo. Hipersensor é quando o bruxo tem os cinco sentidos sensoriais ampliados. Gustav começou com o paladar, não conseguindo comer direito por tudo estar tão exageradamente temperado, e evoluiu pata tato, olfato, visão até o ultimo, com a audição. Ele teve sorte na ordem de seu desenvolvimento, e eu pude me manter escondido até o penúltimo, quando ele descobriu não sentir o cheiro de "mortal" em mim. Essa descoberta até facilitou para nós dois, pois quando veio a audição, ele quase ficou louco.

Ainda tive outros casos mágicos, esses acrescentados aos casos comuns de futuros chamas brancas. Eu tive de aprender a administrar melhor meu tempo. Chamas brancas não dormem especificamente, mas nós repomos nossa energia ao passar no plano de cima, com os anciões.

Os anciões... Eles são um grupo de poderosos Chamas Brancas, que coordenam e ordenam os outros chamas brancas em seus protegidos. Basicamente, eles são os chefes dos Chamas Brancas, e por causa do tempo que utilizam para deixar tudo em ordem, eles deixam de ter protegidos, ficando lá em cima o tempo todo. São eles que regem os poderes dos Chamas Brancas, e se algo acontecer com um deles, afeta os outros anciões e a todos os chamas brancas do mundo.

Mas voltando aos protegidos. À medida que iam crescendo, eles iam precisando menos de mim, e eu fui recebendo outros protegidos. O primeiro grupo de bruxos que recebi de uma só vez foram os três: Priya, Alyssa e Damyen.

Damyen foi o segundo meio-demônio que tenho como protegido. Diferente do primeiro, que acabou em maus lençóis, Damyen era estranhamente manso para um descendente das trevas. Acho que ser criado por um padre realmente faz milagres. Educado, silencioso e muito quieto, demorou um pouco para descobrir o que o fazia agir. Um caso grave de abstinência paterna quando tratando do sangue. Converso sobre isso com Leo até hoje, medindo como será que ele irá reagir quando descobrir quem é seu progenitor. No momento estamos quase certo que ele largaria tudo para saber mais sobre o pai, e tememos que se descoberto essa fraqueza, ele vire alvo fácil.

Dos três, Alyssa foi a mais fácil de desvendar. Síndrome materna na cara. Garota independente que apesar de não querer nada dos outros, é sempre preciso ter alguém olhando por seus ombros para que ela não caia nos precipícios da vida. Vi logo de cara que daria trabalho, e quando tive de busca-la desmaiada em um ônibus, sabia que tinha acertado em cheio.

Priya... Ah... Doce e maravilhosa Priya. Essa garota fazia até a osso-duro da Alyssa amolecer. Então que chances tinha eu contra seu charme?

Em nenhuma de minhas vidas encontrei alguém tão preocupada com o bem-estar e conforto dos outros. Ela foi a carta surpresa deste grupo, pois eu nada sei da Índia, seu estilo ou cultura. O pouco que sei sobre ela foi o que o chama branca dela, lá na Índia, contou-me de passagem, e mesmo isso foi muito pouco.

Juro, pelas minhas asas, que tentei resistir e manter as coisas leves. Mas a cada olhar, a cada frase e momento, eu me via cada vez mais apaixonado.

Quando finalmente expus meus sentimentos, a felicidade não tinha limites. Nunca poderia agradecer mais ao Leo por quebrar as regras e fazer os anciões mudarem as normas. A felicidade, porém, foi limitada pelo tempo. O jantar com os tios de Priya deixou claro que eu não tinha lugar em sua vida pessoal. Nem mesmo uma fresta.

Mas eu não sou perfeito... Eu sou egoísta, e mesquinho, e não queria deixar de ter pelo menos a chance de estar próxima dela, mesmo que seja por pouco tempo. E ia tirar o máximo dele.

Após o primeiro encontro, eu estava literalmente nas nuvens, pois os anciões me chamaram em uma reunião. Tal evento é muito raro. Só os mais experientes dos Chamas Brancas são chamados para reuniões, ao menos que sejam emergenciais. Na reunião, estava o antigo Chama Branca de Priya. Ele de algum modo sabia do relacionamento e queria o seu fim, explicando que os pais de Priya já estavam com um marido praticamente certo para quando ela voltasse. Ele era perfeito, da mesma casta e cultura, bondoso e de oficio estável. Tudo que uma moça indiana poderia pedir em um casamento.

O chama branca sabia como Priya era, e previa como ela ficaria quando tivesse de voltar para casa e seguir com o casamento.

-- Esse seu relacionamento com ela só causará mais sofrimento para ela.

Ouch... Essas palavras perfuraram mais fundo que uma flecha de anjo negro jamais poderia ir. Eu sabia que não iria durar, mas não pensei no estado que Priya ficaria quando tal dia chegasse... Eu sou mesmo egoísta, e mesquinho... E agora eu tenho de arranjar um jeito de terminar com a melhor coisa que aconteceu comigo desde que virei um chama branca...


quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Queda de um Anjo


Não me lembro de quando tudo começou...

Minhas primeiras lembranças são de cerca de quatro anos, envolvendo orbitais azuis brilhantes flutuando ao meu redor e o sorriso de minha mãe, o mais feliz que lembro até hoje. Meu pai não era muito em cena; apenas uma sombra saindo pela porta até que um dia, nunca mais voltou. Nunca me importei com ele nem senti sua falta sequer uma vez. Toda a minha infância foi rodeada por brilho e magia, e eu pensei que era otimo... ERA.

Minha mãe era uma chama branca, uma guardiã para bruxas e outras futuras chamas brancas. Ela podia flutuar, alem de brilhar, e curar. Nunca tive eu precisava ver um hospital com uma mãe assim. Ela só fazia brilhar as suas mãos e toda a dor e sofrimento iam embora. Era fantástico. Mas, com poderes, vinham os deveres, e ela ficava fora por dias inteiros, cuidando de seus protegidos.

Uma noite eu estava brincando em casa, esperando a mãe para voltar do trabalho, como sempre. Eu estava jogando uma bola na parede da sala , quando houve um ruído na porta, e eu corri para vê-la. Mas ela não estava lá. Era meu tio. Ele era o irmão caçula da minha mãe, e brincava comigo frequentemente, mesmo ele estando quase sempre ocupado com a escola de medicina. Ele tinha voltado para casa com lágrimas no rosto. Nunca tinha o visto chorar antes. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas quando ouvi a notícia, eu estava chorando muito.

Mamãe tinha morrido. Os detalhes foram perdidos em sua maior parte, mas a essência foi a de que um de seus protegidos estava lutando contra algo e um feitiço deu errado. Ela teve que se sacrificar para salvar o protegido.

Choramos por dias. E fiquei pensando... Se ela não fosse uma chama branca... Se seu protegido não fosse  um bruxo... Se não houvesse magia... Ela ainda estaria aqui.

Meu tio me tomou sob sua guarda, terminando a escola e trabalhando em uma clínica, e depois de um ano, em um hospital. Eu estava com ele na maioria das vezes, não querendo deixá-lo sozinho... Não querendo FICAR sozinho. E foram nestas paredes brancas de hospital que eu vi a escuridão do mundo, as doenças e a lutas com a vida e a perda. No entanto, eu também podia ver os ganhos, a tenacidade e a capacidade de superar qualquer coisa que o destino jogar em você. Os seres humanos são resilientes. Nós não precisamos de magia. Meu tio não era mágico, apenas um simples mortal, mas ele salvou muitas vidas de qualquer maneira, como minha mãe, e ainda estava aqui. Prometi a mim mesmo que eu não iria me envolver nessa parte de mim nunca mais. Que iria de salvar vidas, como meu tio, e nunca, nunca fazer magia novamente.

Isso aconteceu há muito tempo...

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Eu soquei o saco de areia , repetindo o movimento novamente e novamente. Não podia acreditar o quão horrível a noite tinha se tornado. Parece que não importa o quanto eu tentasse, o quanto eu corresse, a magia sempre parecia determinada a voltar na minha vida.

Por quê? Por que ela tinha de ser uma bruxa? Eu soquei o saco de novo, colocando minhas frustrações em cada punho, mas eu ainda estava entorpecido, a dor no meu peito crescendo e doendo em fim...

─ O que quer que o saco de areia tenha feito com você, eu tenho certeza que ele merece tamanha surra ─ Meu tio estava na porta, eu não havia percebido sua chegada. Droga. Ele chegou mais perto e segura o saco de pancadas, como tantas vezes antes, quando nós estávamos treinando juntos.

─ Quer conversar ou apenas bater um pouco mais até que seja a minha vez? ─ A minha resposta foi outra batida contra o saco de areia. Ficamos em silêncio pela próxima meia hora, quando trocaram de lugar e ele começou a socar e eu segurar o saco de areia.

─ Você sabe... ─ Ele deu um soco ─ A última vez... ─ Outro soco ─ Que você esteve assim... ─ dois socos seguidos ─ Foi quando descobriu que tinha... ─ Um chute... Bem forte ─ Poderes de chama branca. ─ Ele terminou com um chute que me empurrou, cambaleando para trás.

─ Então... Devo presumir que é sobre magia? Ou a sua mãe? ─ Maldito seja ele e seu jeito intrometido de ser... Quando usa esse tom de voz, as opções eram ou dizer o que ele queria saber ou nenhuma moto E ficar trancado fora de casa por uma semana. Ele era severo assim.

─ O primeiro ... ─ Ele cruzou os braços... Isso é sinal de "Não é suficiente. Continue falando"  ─ A garota que eu estava saindo é uma bruxa. ─ Uma sobrancelha levantada, e eu sabia que ele notara o tempo passado em "estava”.

─ Quer dizer aquela garota ruiva gostosa?
─ Sim...
─ Aquela que você esteve namorando para um mês?

─ ... Aquela mesmo ... ─ Eu cerrei os dentes. Agora ele está apenas cutucando com a ferida.

─ Porque isso foi um recorde pessoal para você. Normalmente elas só duram uma semana ... no máximo.

─ Há um ponto para isso? ─ Seu sorriso só cresceu

─ Na verdade não. Só queria verificar se você está terminando com a garota que disse que estar se apaixonado... ─ Eu cruzo meus braços para resistir socando o rosto dele. Maldito seja ele e a minha educação de criação.

─ Já acabou me chutando quando estou no chão?

O tio pára um momento e fingi pensar sobre o assunto antes de responder ─ Claro ─ e se vira para ir embora.


Maldição! Agora estou livre para quebrar naquele saco de areia até que a minha raiva me deixe... ou minhas mãos comecem a sangrar, o que vier em primeiro... Provavelmente a parte das mãos.

─ Só para você saber, amarelar em uma menina por causa dela ser bruxa... me faz lembrar de seu pai ─

Eu dei um soco no saco. Definitivamente as mãos primeiro...